Darktraces: on ghosts and special traces
“Ser assombrado por um fantasma é recordar algo que nunca se viveu, ter a memória do que essencialmente nunca esteve presente.” – Jacques Derrida
Uma dança na desaparição do seu próprio rastro. Sem pertença. O que foi e já não é materializa-se em corpos que dão lugar às suas múltiplas existências, fantasmas de si, já extintos ou por vir, que tanto pertencem à matéria como à memória, à imaginação e à realidade percecionada, ao visível e ao oculto. Partilham de uma solidão existencial entre a vida e a morte.
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Darktraces: on ghosts and spectral dances deambula entre imaginação/realidade (perceção), materialidade/imaterialidade, presença/ausência, visibilidade/invisibilidade. Uma dança sem pertença, que escapa por entre os dedos. Uma dança do “vem” que se materializa incorporada na memória, jamais um objeto da memória, e que desaparece. O simulacro de uma presença que desloca e remete para além de si mesma. Sem lugar, pois o apagamento pertence à sua própria estrutura. O rastro de um rastro.
O trabalho da dança também ele cheio de vícios e códigos a desconstruir todos os dias na nossa prática como forma de ir ao encontro de outras possibilidades de criação e relação com outras existências. Uma contínua reconstrução da nossa identidade, à procura de outras que nos invadam por um determinado tempo, dando lugar a outras e assim sucessivamente.
FICHA TÉCNICA
Conceção, direção artística, espaço cénico e paisagem sonora: Joana Castro
Cocriação e interpretação: Ana Rita Xavier, André Mendes, Maurícia | Neves e Thamiris Carvalho
Desenho de luz: Mariana Figueroa
Cocriação da paisagem sonora: Rafael Maia
Apoio sonoro: Bernardo Bento
Figurinos e caraterização: Silvana Ivaldi
Apoio à criação e residências artísticas: Balleteatro, CAMPUS Paulo Cunha e Silva, Devir Capa, Pro.dança, Visões Úteis, Reitoria da Universidade do Porto, Teatro de Ferro, Companhia Instável e Serralves – Museu de Arte Contemporânea
Residência de Coprodução: O Espaço do Tempo
Apoio à gestão financeira: Produções Independentes
Apoio à Criação: Fundação Calouste Gulbenkian
Coprodução: Serralves – Museu de Arte Contemporânea, Self-Mistake e Cine-Teatro Louletano
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Joana Castro (1988, Porto). Coreógrafa e performer portuguesa desenvolve os seus projetos entre a dança, a performance e o som, tendo apresentado algumas das suas obras em Portugal, França, Bélgica, Alemanha e Brasil. Enquanto criadora na área da dança/performance destaca “Perto… tanto quanto possível” (2014), “SU8MARINO” (2016/17), “RITE OF DECAY” (2019/20), “and STILL we MOVE” (2021) em colaboração com Maurícia | Neves e “Darktraces” (2021), e na área do som a instalação “PARADISUM” (2015) e a paisagem sonora “RITE OF DECAY” (2019/20) em colaboração com Diana Combo. Desde 2007 tem vindo a lidar com a morte de uma forma muito próxima e recorrente, e inevitavelmente ideias como rituais de fim, de extinção, de (des)aparecimento e de morte enquanto potência transformadora têm habitado o seu universo criativo. Atualmente encontra-se em digressão com RITE OF DECAY e em processo de criação do seu novo projeto coreográfico “Darktraces: on ghosts and spectral dances”, com estreia no auditório de Serralves – Museu de Arte Contemporânea no contexto do Festival DDD, do Teatro Municipal do Porto em Abril de 2022.