Este é o meu corpo
Este é o meu corpo.
Entre a afirmação e a pergunta.
Sim, este foi o meu corpo. Estes trabalhos a solo foram o meu corpo – o meu corpo físico, pessoal, artístico- ao longo de 28 anos. Mas também são um corpo colectivo, inscrito em diferentes circunstâncias e contextos, contextos sociais, políticos e artísticos e podem contar também essa história. Acredito que a criação artística tem consequências na vida de todos nós, assim como acredito que as nossas acções pessoais têm essa mesma expressão. Acredito que o dever dos vivos é lembrar os mortos tal como acredito que o dever da arte é dar voz a todos aqueles que não a têm. Acredito cada vez mais, de forma convicta e consciente na ideia de Deus. E por isso acredito cada vez mais que o mais frágil, o mais perecível, o único e individual tem de ser protegido.
Mas será ainda este o meu corpo?
Não sei.
E que corpo pode ser este que continua a procurar-se através do trabalho?
Que corpo poderá vir a ser?
É esta a razão primeira que me leva a unificar trabalhos que foram realizados fragmentadamente ao longo de 28 anos da minha vida, encontrar-me na relação com os outros, neste privilégio que é a criação artística e continuar a viver cheia de espanto.