s/ título, #8 — auéééu
Em cena, vemos um escultor criar, em tempo real, uma peça escultórica enquanto elementos exteriores, manuseados pelos actores, contaminam, emolduram, documentam, interferem, impedem, potenciam ou simplesmente criam planos paralelos à acção. A execução desta escultura não só constitui o cerne do espectáculo como também o invade, o atrapalha, o enaltece, o acalma ou o questiona. Seja através do ruído, das exigentes necessidades técnicas, do desafio formal que propõe ou do diálogo que poderá estabelecer com os actores, o escultor e os seus materiais assumem um jogo teatral e visual possibilitando uma nova revisão da relação entre aquele que faz a obra, o objeto criado e tudo aquilo que alimenta e destabiliza a sua concepção. O mistério que envolve a criação de uma escultura suscita a curiosidade dos actores que ora tentam compreender, ora desejam testar os limites do ímpeto do artista que a constrói. E tudo isto, poder-se-ia dizer, consiste numa ideia de teatro que estes actores, fazendo parte de um colectivo, pretendem reflectir: a criação enquanto “recreio”, espaço de liberdade e de experimentação; o próprio espectáculo enquanto processo criativo, bruto, vivo, que escapa ao controle de cada intérprete/criador, em permanente evolução, por oposição à ideia de obra acabada, detalhadamente definida e completa, erigida a partir de um olhar exterior e unidireccional.
Ficha Técnica / Artística
Criação e Produção: auéééu
Com: Fernando Roussado, Frederico Barata, Filipe Velez, João Luís Silva, Joana Manaças, Miguel Cunha, Sérgio Coragem.
Apoio à criação: Beatriz Brás, Statt Miller, David Antunes, Francisco Luís Parreira.
Desenho de luz/Operação técnica: Daniel Worm d’Assumpção
Cenografia: Fernando Roussado
Adereços/Figurinos: Statt Miller
Imagem/Cartaz: Filipe Andrade
Produção Executiva: auéééu
Realização do filme: Tiago Rosa-Rosso
Residência de Criação: O Espaço do Tempo, Materiais Diversos, Centro Cultural Vila-Flor
Co-Produção: EGEAC/Teatro do Bairro Alto e O Espaço do Tempo
Apoio: Livraria Ferin
Sobre aéééu
auéééu nasce da vontade de pensar a criação em colectivo, numa relação de poder horizontal, na qual se valoriza e se inclui a diferença, o caos e a diversidade individual nos seus processos de construção artística. A companhia procura desenhar territórios de encontro através do que se pode chamar corpo sensível – um corpo que sente e pensa enquanto escreve. Consciente desse jogo cénico, utiliza o real dentro da ficção e a ficção dentro do real.